sexta-feira, 17 de abril de 2009

Tema 2 - Abordagem Comunicacional das Relações Interpessoais


O Interaccionismo Simbólico
Desenvolvido principalmente por George Mead (1034) e Herbert Blumer (1969), o interaccionismo simbólico é definido como sendo o estudo da forma como os seres humanos encaram a sua realidade e vivem as suas experiências quotidianas, em contacto com os outros.
O Interaccionismo Simbólico encara a vida humana como básica e profundamente intersubjectiva, fundamentando-se numa série de conceitos básicos, relacionados com a nossa condição de seres humanos e membros de uma sociedade.
A noção central do interaccionismo reside no facto de os seres humanos não poderem ser entendidos fora do contexto comunitário em que vivem. O comportamento humano está associado a factores como estímulos, atitudes, motivações conscientes e inconscientes, diferentes tipos de inputs psicológicos, perceptivos e cognitivos. Os sociólogos referem-se, ainda, a factores relacionados com o estatuto social, exigências sociais, papéis, normas e valores, afiliação e pressão do grupo. É desta forma que os seres humanos aprendem a linguagem, as regras sociais de convivência, adquirem conhecimentos e se desenvolvem mentalmente, partilhando todo um conjunto de símbolos que nos permitem comunicar mutuamente, agindo para que os outros nos compreendam. No entanto, esta vida em sociedade leva-nos também a reflectir acerca dos nossos comportamentos, controlando, monitorizando, ajustando e avaliando cada um dos nossos comportamentos, no sentido de desenvolvermos metodologias de acção em relação às coisas e situações vividas.
De acordo com Blumer (1986), o Interaccionismo simbólico assenta em três princípios básicos que condicionam as acções e atitudes dos indivíduos:
O primeiro conceito básico diz respeito aos seres humanos, enquanto seres em acção ou agentes de determinadas acções. O ser humano age em relação às coisas, tendo como base os significados que essas coisas têm para si, ou seja, a importância que atribui às coisas depende do significado que têm para o sujeito;
O segundo conceito refere-se, mais propriamente, à natureza da acção humana, enquanto resultado de um processo complexo de interpretação. A interacção social surge como formadora de comportamentos, dado que a sociedade é interactiva e, por isso, existe uma influência recíproca, em que a acção de uns sujeitos influencia, directa ou indirectamente, a acção dos outros;
O terceiro e último conceito diz respeito à forma como o significado das coisas deriva ou é retirado da interacção social com os outros que nos rodeiam. Estes significados são tratados e modificados, de acordo com o processo de interpretação de cada um, lidando com o que cada um encontra.
Por todas estas razões, o Interaccionismo Simbólico implica uma complexidade crescente, que pressupõe a rejeição a modelos prontos.
A Escola de Palo Alto
A corrente conhecida como a Escola de Palo Alto surgiu nos anos 50 através de estudos realizados por especialistas do Mental Research Institute. A inspiração para este movimento surgiu da teoria de classes lógicas, desenvolvida pelo filósofo inglês Bertrand Russel.
Este movimento pretendia dar respostas à forma como o processo mental se desenvolve. De acordo com as suas teorias, o processo mental desenvolve-se a dois níveis:
- A Lei da Comunicação, que defendia que é impossível não comunicar, pois mesmo quando não queremos falar e nos mantemos em silêncio, estamos a comunicar, uma vez que transmitimos essa mesma mensagem ao nosso interlocutor, e o conceito do duplo sentido, que consiste na dupla interpretação que cada situação pode despertar;
- A Lei da Mudança. De acordo com a escola de Palo Alto, existem dois tipos de mudança: a primeira, chamada de Tipo 1 (acontece ao nível micro), está relacionada com a realidade. Esta mudança é produzida dentro de um sistema que não se altera, apenas é alterado um componente desse sistema, mas no geral tudo se mantém na mesma. A segunda, chamada de Tipo 2 (acontece ao nível macro), é o tipo de mudança que irá surtir efeitos, sendo considerada a mais importante, pois trata-se de uma mudança na percepção da realidade. Para que esta mudança ocorra, é necessário que uma regra do sistema (hipótese, julgamento, estereótipo, …) seja quebrada, para que haja uma ruptura mental com o que existia anteriormente. De acordo com este movimento, para haver uma mudança verdadeira é necessário mudar-se duas vezes, ou seja temos de mudar a nossa realidade ao mesmo tempo que muda a nossa percepção. Só desta forma, é que nós, enquanto seres humanos, reconhecemos realmente a mudança, tornando-a irreversível.
Conclusão
Ambas as teorias estudadas têm um carácter holístico, uma vez que fazem uma abordagem ao todo, de modo a encontrar uma solução ou explicação para uma determinada situação.
Os princípios vinculados a estas correntes podem ser encontrados na nossa experiência quotidiana, pois remetem sempre para situações reais, vividas em sociedade. Na minha prática pessoal têm sido várias as situações vividas que se enquadram nos princípios defendidos por ambas as escolas. No dia-a-dia estamos constantemente a comunicar, daí que cada vez que comunicamos com os nossos familiares, colegas de trabalho, alunos, pais, etc. estamos a agir e a produzir resultados em função das situações e das pessoas com as quais nos deparamos. Estas atitudes são enquadradas com o contexto, adequando-se pessoal e socialmente às pessoas e situações vividas, por exemplo, a minha relação com os alunos com quem trabalho, a linguagem utilizada e as reacções que tenho perante as suas atitudes e respostas diferem daquelas que tenho perante a minha família, dado as situações sociais serem diferentes e exigirem comportamentos e símbolos distintos. Esta interacção vai, automaticamente, despoletar outro tipo de comportamentos e mudanças nos comportamentos e até mesmo na linguagem nos sujeitos com os quais me relaciono, implicando muitas vezes em mudanças de tipo 1 e 2, mediante os resultados obtidos, ainda que, por vezes, esses resultados não sejam visíveis de forma imediata. Os meus alunos são constantemente interpelados no sentido de corrigirem posturas, atitudes e até mesmo forma de falar. Dada a insistência na correcção dos erros, estes acabam por desaparecer, dando lugar aos comportamentos e uso da linguagem considerados adequados.
Bibliografia
- Costa, Mª Emília, Matos, Paula M., 2006, Abordagem Sistémica do Conflito, Lisboa, Universidade Aberta
- Blumer, Herbert, 1986, Symbolic Interaccionism: Perspective and Method, California, University of California Press
- Moreira, Daniel; 2002, O método fenomelológico na pesquisa, Thomson Pioneira
- Reynolds, L., Hermann-Kinney, Nancy, 2003, Handbook of symbolic interaccionismo, Rowan Altamira