domingo, 7 de junho de 2009

Bullying


Introdução
Nos dias de hoje, o termo Bullying tem-se tornado comum dada a frequência com que aparecem relatos nos meios de comunicação social de situações envolvendo agressões físicas e psicológicas dentro das escolas, entre elementos da comunidade escolar, nomeadamente entre pares.
O Conceito de Bullying e suas implicações nas dinâmicas relacionais na escola e em contextos profissionais.
Bullying é um termo de origem inglesa que é usado para descrever actos de violência física ou psicológica, de forma intencional e repetida. Esta acção é normalmente praticada por um indivíduo ou grupo de indivíduos com o objectivo de intimidar colegas, aparentemente mais fracos e que não são capazes de se defender.
De acordo com Dan Olweus, um cientista sueco que se dedicou ao estudo deste fenómeno, bullying pode ser caracterizado de três formas:
• comportamento agressivo e negativo;
• comportamento que é executado repetidamente;
• comportamento que ocorre num relacionamento onde há um desequilíbrio de poder entre as partes envolvidas.
O Bullying pode ser posto em prática de forma directa, em que há a agressão física ou sexual a um indivíduo que outro ou outros, sejam eles parte de um grupo ou não, consideram mais fraco e de forma indirecta, também conhecido como bullying social, que consiste em agredir verbal e socialmente um sujeito considerado inferior. Enquanto que a primeira forma de agressão é mais comum entre o sexo masculino, a segunda forma é mais comum entre elementos do sexo feminino ou crianças pequenas. Nestes casos a vítima é forçada ao isolamento social através de comentários, pela recusa em socializar com a vítima, pela intimidação de outros que queiram socializar com a vítima e/ou pela crítica relativamente à maneira de vestir, religião, raça ou etnia, incapacidade, etc.
Geralmente as vítimas e mesmo os agressores apresentam graves problemas de auto-estima, sentindo-se, na maioria das vezes, com pouco poder de influência em relação aos pares. Esta mesma situação explica porque razão uns se tornam vítimas e outros agressores.
Ao contrário do que se possa pensar, o Bullying é um comportamento que pode existir em qualquer idade e local, não sendo por isso restrito às escolas, apesar das situações mais frequentemente descritas se passarem no espaço escolar. Entre os espaços que envolvem este tipo de comportamento temos naturalmente a escola, as universidades, os locais de trabalho, a zona de residência ou vizinhança e até mesmo países vizinhos, em que há uma rivalidade negativa entre os habitantes de ambas as soberanias, sendo um dos países mais poderoso do que o outro.
Nesta época, também conhecida por Era Digital, começa a ser comum o Cyberbullying. Este tipo de violência tem também como objectivo prejudicar alguém. A diferença reside apenas no facto de se recorrer ao uso das tecnologias de informação e comunicação para promover comportamentos deliberados, repetidos e hostis.
Análise de um caso
Caso I - Felizmente na escola onde lecciono não são conhecidos grandes problemas deste género. No entanto, há algum tempo tivemos um grupo de alunas que achou que tinha o direito de avaliar as colegas de outras turmas, massacrando as alunas provenientes de áreas ou famílias mais desfavorecidas, criticando e ridicularizando a sua forma de vestir, os materiais que usavam, etc. É evidente que numa escola pequena, este tipo de problema é facilmente detectado e pouco tempo depois a Directora de Turma, juntamente com o Director de Curso, ao qual essas alunas pertenciam, actuou, chegando mesmo a chamar os Encarregados de Educação das agressoras ou bullies, pedindo a sua colaboração para solucionar este problema. Uma vez que a escola estava atenta, os encarregados de educação colaboraram e as alunas que sofreram as agressões tiveram a coragem de contar o que se passava, a situação foi prontamente ultrapassada. No entanto, existem muitos outros casos que só se tornam conhecidos porque os agredidos tomaram medidas extremadas como resposta às agressões sofridas.
Caso II – “Um caso extremo de bullying numa escola foi o de um aluno do oitavo ano chamado Curtis Taylor, numa escola secundária em Iowa, Estados Unidos. O aluno foi vítima de bullying contínuo por três anos, entre as agressões estavam incluídas alcunhas jocosas, espancamento, a roupa suja e os pertences vandalizados. Tudo isso acabou por o levar o rapaz ao suicídio a 21 de Março de 1993.”
Os maus tratos a que este rapaz foi sujeito, sem que durante os três anos tenha havido qualquer tentativa de resolução do problema quer por parte do aluno, quer por parte dos pais, escola e colegas (pelo menos dentro do que é conhecido deste caso, uma vez que este aluno sofreu as agressões mantendo-as em segredo), levou-o a cometer o suicídio, uma vez que esta surgiu como a única saída acabar com o problema. Este tipo de agressão é extremamente violenta, uma vez que as vítimas são constantemente perseguidas e humilhadas, não conseguindo escapar de um círculo vicioso, que os destrói tanto psicológica como socialmente, deixando-os praticamente sem saída.
Na minha humilde opinião, esta situação extremada teve um desfecho infeliz, porque provavelmente não houve por parte da escola, juntamente com os pais e encarregados de educação uma acção concertada que levasse à extinção deste comportamento negativo e indesejável. É evidente que não se conhecem os pormenores do caso, sendo por isso muito difícil analisar de forma correcta toda esta situação. No entanto, enquanto mãe e professora acho que se esta situação se passasse com o meu filho, tentaria levar a cabo todos os esforço para a resolver e caso não conseguisse, trataria de pedir a transferência do meu filho para uma outra escola, numa tentativa de o poupar das agressões e humilhações que estaria a passar.
Apoiar e procurar soluções é a obrigação de todos. No entanto, as escolas, nomeadamente os professores têm de estar atentos a este tipo de situações, no sentido de agir atempadamente e “banir” este tipo de comportamento. Neste tipo de caso, a escola tem de reforçar as medidas educativas, como a vigilância, sanções, reuniões com encarregados de educação, etc, para que os agressores entendam que não será tolerada qualquer atitude desta natureza.
Considerações Finais
Este tipo de comportamento reprovável deve ser banido das escolas e outros locais em que existam. Na minha opinião só através da educação para a tolerância, respeito pelo outro e pela sua cultura, raça, etnia, mas principalmente pela sua individualidade é que se conseguirá ultrapassar ou banir este tipo de comportamento. A chave está sempre na educação, daí que as escolas e os pais tenham um papel preponderante em todo este cenário. No entanto, as sociedades também têm um papel a desempenhar, uma vez que somos o espelho do ambiente em que vivemos, e não pode haver tolerância e respeito numa escola, se a comunidade envolvente não viver de acordo com estes princípios.



Referências Bibliográficas
- Costa, Emília, Matos, Paula, 2006, Abordagem Sistémica do Conflito, Lisboa, Universidade Aberta
- Urra, J. (2007), O pequeno ditador. Da criança mimada ao adolescente agressivo (2ªed.), Lisboa: A esfera dos livros, pp. 325-336
- http://pt.wikipedia.org/wiki/Bullying

terça-feira, 19 de maio de 2009

Tema 4 - Conflito e Intervenção na Escola


Introdução
No âmbito da unidade de Relações Interpessoais pretende-se fazer uma abordagem dos princípios básicos de conflito, caracterizando-os do ponto de vista teórico, de acordo com a literatura consultada, ao mesmo tempo que se analisam determinadas situações, realçando a intencionalidade dos intervenientes e o tipo de discursos utilizados.

Caracterização de conflito / conflito na escola
Qualquer conflito resulta de uma perspectiva ou interesse divergente, relativamente a outros com os quais nos relacionamos, suscitando a sensação de que os objectivos das partes envolvidas não podem ser atingidos em simultâneo.
A escola como palco preferencial de relações e interacções surge como um local propício a conflitos, uma vez que abarca, no mesmo espaço, indivíduos diferentes, oriundos das mais diversas origens, contextos, formações, com propensão a demonstrar o que pensam e sentem nas mais variadas situações. A escola surge, hoje mais do que nunca, como espaço privilegiado para conflitos, daí que seja necessário dotar todos os intervenientes das “ferramentas” necessárias para conseguirem ultrapassar estas situações de forma pacífica e harmonizadora.
Ao contrário do que normalmente acontece, o conflito, de acordo com a sugestão de Deutsch (1973, citado por Costa e Matos, 2006) deve ser sempre encarado como algo neutro, contrastando com os seus resultados que podem ser positivos ou negativos, mediante a atitude que adoptamos perante o mesmo.
De acordo com Costa e Matos (2006), os efeitos negativos resultantes de um conflito são a desconfiança, a obstrução de cooperação, a perturbação das relações, o escalar das diferenças de posição que poderá conduzir a um confronto violento. Já os efeitos positivos podem ser vistos como o incentivo à discussão sobre diferentes assuntos, a promoção de formas construtivas de clarificação de divergências, tal como a sua resolução, o encorajar uma comunicação mais aberta e espontânea levando ao crescimento das diferentes partes envolvidas nesta relação conflituosa.
Se transportarmos esta realidade para as escolas, e de acordo com Johnson & Johnson, o conflito poderá assumir diferentes vertentes:
• Controvérsia – quando as ideias, informações, conclusões, teorias e opiniões de um sujeito são incompatíveis com as de outros e em que ambos procuram acordo. Quando abordada construtivamente, a controvérsia académica facilita a aprendizagem e a capacidade de tomar decisões, tal como a sua qualidade;
• Conceptual – quando há ideias incompatíveis, ou seja a informação recebida não é compatível com o conhecimento anterior;
• De interesses – dizem respeito às acções de um indivíduo, maximizando os seus objectivos, interferindo ou bloqueando as acções de outros que também pretendem atingir os seus fins;
• Desenvolvimental – relaciona-se com forças opostas de estabilidade e mudança que co-ocorrem em actividades incompatíveis entre adultos e crianças.

1. Estratégias de intervenção
De entre as estratégias utilizadas para a resolução de conflitos surgem algumas propostas interessantes e que serão alvo de análise mais detalhada, entre elas teremos as estratégias centradas nos indivíduos e nas relações interpessoais e as estratégias centradas nos sistemas, que abarcam, entre outros, os conflitos que surgem em contexto escolar.
1.1. Estratégias centradas nos indivíduos e nas relações interpessoais
Meneses (2003, citado por Costa e Matos, 2006) sugere a mediação de pares como uma das propostas mais usadas na resolução de conflitos, uma vez que lhes permite desenvolver características pessoais e interpessoais importantes, tais como a escuta activa, a paráfrase, a reformulação de ideias e o desempenho de papéis. O objectivo principal desta proposta consiste em gerar acordos aceitáveis para todos os envolvidos, para que estes passem a ser capazes de lidar com problemas idênticos, solucionando possíveis problemas, sem que para isso tenham de recorrer a um adulto.
Este tipo de proposta tem resultados extremamente positivos a diversos níveis, pois permite aos mediadores e mediados desempenharem papéis que os obriga a descentrarem a sua atenção de si mesmos, com o intuito de fornecerem cuidados a outros, aprendendo ao mesmo tempo a lidar com as divergências, tentando entender também o ponto de vista do outro. Para além disso, este tipo de estratégia confere aos intervenientes sentimentos de poder e controlo sobre as suas vidas, tal como a capacidade de tomar decisões que satisfaçam as suas necessidades e promovam o seu desenvolvimento psicossocial. Para além desta estratégia há que ter em conta que é necessário incentivar nos jovens a procura pela compreensão dos conflitos, para que consigam ultrapassar questões mais complicadas e evitar uma escalada para a violência, que infelizmente ainda é recorrente em muitas das nossas escolas, quer nas relações inter-pares (alunos/alunos), quer em relações de complementaridade (professores/alunos, pais/professores, pais/filhos…).
Pelas razões apontadas anteriormente, há a necessidade de cada vez mais criar nos jovens sentimentos de controlo e poder sobre as suas próprias vidas, bem como sobre a sua capacidade de resolução de problemas, satisfazendo, ao mesmo tempo, as suas necessidades. Desta feita, é importante seguir determinados passos, no sentido de promover a resolução dos problemas/conflitos. É necessário separar as pessoas do problema, para que cada um dos envolvidos seja capaz de reconhecer que podem haver percepções diferentes da sua, que têm de ser respeitadas; é importante reconhecer as emoções envolvidas neste processo, levando os intervenientes a partilhar os seus sentimentos e emoções, de forma a conduzi-los à resolução do conflito; é imprescindível reconhecer que o conflito é também uma forma de comunicação, daí que seja necessário ouvir e fazer-se ouvir, dando-se ênfase à metacomunicação, em que há real comunicação e valorização do que está a ser comunicado; é também extremamente importante aprender a diferenciar o foco nos interesses e não nas posições, pois uma vez que os interesses estão bem delineados há uma maior probabilidade de haver entendimento, visto as pessoas poderem negociar interesses mútuos, ultrapassando o conflito; e por fim é necessário criar oportunidades para encontrar opções ou alternativas distintas para se evitarem julgamentos precipitados que impeçam que se encontre uma verdadeira solução que sirva todas as partes.



1.2. Estratégias centradas nos sistemas
Se analisarmos as situações de conflito teremos que ter em conta que estes surgem sempre dentro de contextos muito específicos, que de certo modo os condicionam. Tendo em conta este facto, há que analisar estes conflitos a partir de uma perspectiva sistémica que nos permita uma maior compreensão da complexidade do conflito, oferecendo-nos ao mesmo tempo formas de lidar construtivamente com o mesmo, num contexto como o escolar.
No contexto escolar há a necessidade de criar uma cultura escolar, na qual estejam subjacentes competências sociais e emocionais que levem à redução de situações de violência e preconceitos, através da construção de relações equilibradas, promotoras de hábitos de vida saudável em comunidade. Para este fim, há que dotar os currículos de actividades comunitárias, centradas nos alunos, que visem a gestão da disciplina, o desenvolvimento social, emocional e académico harmonioso, incluindo tópicos como a gestão e resolução de conflitos, a gestão da fúria, a comunicação efectiva, valorizando-se a diversidade de opiniões e a redução de preconceitos.
Desta feita, pretende-se que os adultos funcionem como modelos, tendo este também de estar bem cientes das suas responsabilidades a este nível, pondo em prática competências que visem a resolução de conflitos, evitando a escalada de atitudes violentas, promovendo ainda uma comunicação efectiva ou mesmo a metacomunicação. Assim, temos de ter em consideração que os jovens não se encontram todos no mesmo nível desenvolvimental, pelo que será necessário empreender todos os esforços para que a mensagem chegue a todos e seja compreendida por todos os intervenientes. Ainda por esta razão, é necessário reconhecer que todos têm diferentes graus de responsabilidade, sendo imprescindível que haja adequação a cada situação conflituosa, nomeadamente por parte dos adultos, aos quais está atribuído, naturalmente, o papel de modelos e gestores de situações de conflito.
A este nível pretende-se essencialmente desenvolver nos alunos determinadas atitudes e comportamentos que visem a resolução de conflitos, nomeadamente que percebam qual o tipo de conflito em que estão envolvidos, que tenham consciência das causas e consequências do mesmo, que se respeitem a si próprios e aos outros, que compreendam e aceitem pontos de vista diferentes e diferenças culturais, que saibam distinguir interesses e posições, explorando-os através do diálogo, ouvindo atentamente e falando de forma a ser compreendido. Deste modo, os jovens poderão desenvolver competências essenciais à vida em sociedade, ao mesmo tempo que passam a conhecer-se melhor e a ver o outro que merece ser compreendido e respeitado. Assim podemos dizer que os diferentes níveis sistémicos serão respeitados e desenvolvidos nos alunos através da criação de disciplina, adaptação de currículos, ensinando os alunos a ultrapassar situações de conflito (pedagogia), cultivando uma cultura escolar que será depois transportada para a comunidade alargada, atingindo-se assim o quinto nível sistémico da resolução de conflitos.

Estudo de caso – o episódio passado na escola Secundária Carolina Michäelis
A situação passada na Escola Secundária Carolina Michäelis poderia não ter passado de mais uma situação de conflito e violência nas escolas, caso um aluno não tivesse filmado a situação e esta não tivesse passado para os órgãos de comunicação social. De qualquer das formas, tratou-se de uma situação grave em contexto de sala de aula, devido ao desrespeito demonstrado pela aluna e colegas de turma e também devido à falta de calma e ponderação, por parte da professora envolvida, que agiu sem reflectir.
No meu entender e à luz da bibliografia estudada, o professor, enquanto modelo comportamental e profissional, deve adoptar sempre uma atitude que evite situações de conflito, uma vez que deve ser encarado como autoridade a respeitar e exemplo a seguir. De qualquer das formas, a professora ao entrar em conflito directo com a aluna, provocou toda uma situação que levou a que a aluna e turma envolvidas, deixassem de lhe reconhecer a autoridade devida e assumissem uma atitude de desafio e total desrespeito. É evidente que é sempre mais fácil avaliar uma situação à qual somos alheios, no entanto e da experiência que tenho, a professora deveria ter optado por pedir à aluna que se retirasse da sala de aulas, uma vez que não estaria a cumprir uma norma de comportamento. Caso a aluna se recusasse a sair da sala, penso que a atitude mais correcta seria chamar um auxiliar de acção educativa e pedir-lhe que acompanhasse a aluna em questão ao Conselho Executivo, onde a aluna teria de se explicar, face ao desrespeito demonstrado. Penso que se a professora tivesse agido desta forma, o confronto não se teria dado.
Muitas vezes, os conflitos em sala de aula dão-se, essencialmente, devido à falta de calma e ponderação em relação à situação vivida. Porém, considero que o professor deverá adoptar sempre uma postura moderada face a este tipo de situações, analisando e agindo de forma ajustada, evitando conflitos reais, sejam estes entre alunos ou entre alunos e professores. Cabe ao professor, enquanto adulto e responsável pelo acompanhamento e formação de jovens, adoptar comportamentos que sirvam de exemplo aos que o rodeiam, promovendo o diálogo entre as partes e uma análise adequada da situação em questão.

Considerações Finais
No contexto escolar as situações de conflito devem ser encaradas como mais uma forma de crescimento e amadurecimento, devendo ser usados de forma a levar os jovens a compreenderem e respeitarem posições contrárias às suas, fomentando o diálogo/comunicação entre as partes, o respeito e tolerância essenciais para uma vida em sociedades plurais, multiculturais e multirraciais. A escola é o local, por excelência, para moldar pensamentos e atitudes, mediando e aconselhando nas diferentes situações, servindo de base para a criação de relações positivas na comunidade em geral.

Bibliografia

- Costa, Emília, Matos, Paula, 2006, Abordagem Sistémica do Conflito, Lisboa, Universidade Aberta

sábado, 2 de maio de 2009

Tema 3 - Perspectiva dialógica das Interacçóes


Um plano de acção tutorial pretende acima de tudo levar os alunos a uma melhor inserção e participação na vida escolar, conhecendo também as suas necessidades e interesses, no sentido de permitir a todos os intervenientes (comunidade escolar, em geral, e professores, em particular) ajudarem os alunos na formulação de um projecto de vida, passando por aspectos fundamentais, tais como a realização pessoal e verdadeira integração social. Neste sentido, este tipo de plano de acção tutorial tem raízes na teoria da actividade de Vygotsky, na medida em que se pretende organizar todo o processo educativo à volta da experiência pessoal de um indivíduo, com o intuito de o envolver em todo o processo de ensino aprendizagem, evitando uma ruptura com o espaço escola e consequentemente com a sua formação pessoal, social e até profissional.
A teoria defendida por Vygotsky baseia-se na Zona de Desenvolvimento Próximo que se refere à criação de situações de interacção social ou ambientes em que a criança recebe apoio, permitindo-lhe adquirir novas capacidades (skills), que lhes permitam a curto e a longo prazo ultrapassar dificuldades de diversas origens. É com base nos estudos levados a cabo por Vygotsky e seus seguidores que surge o Plano de Acção Tutorial, na medida em que se pretende criar ambientes escolares e sociais que permitam aos alunos com determinados problemas, ultrapassar as dificuldades e integrarem-se, de forma natural e adequada, ao meio em que estão inseridos, permitindo-lhes ainda “crescerem” como indivíduos diferentes dos restantes, mas socialmente integrados e participantes.
Assim, há que ter em conta aspectos individuais e sociais específicos, aquando da organização de um Plano de Accão Tutorial, uma vez que este tipo de plano visa ajudar os alunos a ultrapassarem dificuldades de integração no espaço escola/turma, aumentando a sua auto-estima, inserção escolar e social, adquirir hábitos de trabalho individual e em grupo, ultrapassando dificuldades de aprendizagem, que surjam ao longo do percurso escolar. Logo à partida é necessário traçarem-se os objectivos para este plano de forma clara e objectiva, tal como os públicos-alvo, a metodologia, as actividades a desenvolver, entre outros.
Objectivos Gerais
- Diagnosticar potencialidades e dificuldades do aluno e fazer o devido encaminhamento;
- Estimular o desenvolvimento de competências sociais, de convívio;
- Desenvolver actividades que promovam a auto-estima do aluno;
- Gerir conflitos ajudando o aluno a superar problemas de relacionamento;
- Prestar esclarecimentos aos alunos nas áreas em que apresentem questões;
- Promover e colaborar em acções de educação para os afectos
- Identificar e analisar as causas do absentismo, abandono e insucesso escolares e exclusão social, colaborando com a escola e pais e encarregados de educação no combate a estas situações;
- Apoiar os alunos no processo de desenvolvimento da sua identidade pessoal e do seu projecto de vida;
- Promover a relação família-escola;
- Diagnosticar e apoiar casos de famílias desfavorecidas;
- Promover parcerias com diferentes instituições (centros de saúde, associação de pais, centros desportivos, etc).
Evidentemente que é necessário delinear todo o processo, a fim de se identificarem os públicos-alvo deste tipo de plano, nomeadamente alunos com dificuldades de aprendizagem, com dificuldades de integração na escola/turma, alunos de famílias desestruturadas, com problemas sociais e financeiros que possam levar ao abandono escolar, insucesso e comportamentos disruptivos. Para além destes aspectos, é também extremamente importante estabelecer, de forma clara, as funções do professor tutor que será o responsável pelo acompanhamento de um determinado grupo de alunos que deverão ser, preferencialmente, acompanhados pelo mesmo tutor durante todo o seu percurso escolar. Este profissional deverá também reunir periodicamente com os alunos (encontros semanais) e com o conselho de turma, de forma a planificar e articular as actividades, adquirindo ainda uma visão global de todo o processo nas diferentes disciplinas.
Em suma, este tipo de plano, à luz das teorias defendidas por Vygotsky, funciona como uma ferramenta privilegiada no combate ao insucesso e abandono escolar, tal como na tentativa de ajudar os alunos a ultrapassarem dificuldades de integração nos grupos em que foram inseridos.

Bibliografia
- http://www.edu.helsinki.fi/activity/pages/chatanddwr/activitysystem/ (cedido online)
- http://communication.ucsd.edu/LCHC/MCA/Paper/Engestrom/expanding/ch3.htm (cedido online)
- Ramirez, M.J.J., Flores, Oscar, Pajarito, Elena, Un acercamiento a la orientación y tutoria en secundaria: la opinion de los estudiantes, (cedido online)
- http://www.uma.pt/carlosfino/publicações/11.pdf

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Tema 2 - Abordagem Comunicacional das Relações Interpessoais


O Interaccionismo Simbólico
Desenvolvido principalmente por George Mead (1034) e Herbert Blumer (1969), o interaccionismo simbólico é definido como sendo o estudo da forma como os seres humanos encaram a sua realidade e vivem as suas experiências quotidianas, em contacto com os outros.
O Interaccionismo Simbólico encara a vida humana como básica e profundamente intersubjectiva, fundamentando-se numa série de conceitos básicos, relacionados com a nossa condição de seres humanos e membros de uma sociedade.
A noção central do interaccionismo reside no facto de os seres humanos não poderem ser entendidos fora do contexto comunitário em que vivem. O comportamento humano está associado a factores como estímulos, atitudes, motivações conscientes e inconscientes, diferentes tipos de inputs psicológicos, perceptivos e cognitivos. Os sociólogos referem-se, ainda, a factores relacionados com o estatuto social, exigências sociais, papéis, normas e valores, afiliação e pressão do grupo. É desta forma que os seres humanos aprendem a linguagem, as regras sociais de convivência, adquirem conhecimentos e se desenvolvem mentalmente, partilhando todo um conjunto de símbolos que nos permitem comunicar mutuamente, agindo para que os outros nos compreendam. No entanto, esta vida em sociedade leva-nos também a reflectir acerca dos nossos comportamentos, controlando, monitorizando, ajustando e avaliando cada um dos nossos comportamentos, no sentido de desenvolvermos metodologias de acção em relação às coisas e situações vividas.
De acordo com Blumer (1986), o Interaccionismo simbólico assenta em três princípios básicos que condicionam as acções e atitudes dos indivíduos:
O primeiro conceito básico diz respeito aos seres humanos, enquanto seres em acção ou agentes de determinadas acções. O ser humano age em relação às coisas, tendo como base os significados que essas coisas têm para si, ou seja, a importância que atribui às coisas depende do significado que têm para o sujeito;
O segundo conceito refere-se, mais propriamente, à natureza da acção humana, enquanto resultado de um processo complexo de interpretação. A interacção social surge como formadora de comportamentos, dado que a sociedade é interactiva e, por isso, existe uma influência recíproca, em que a acção de uns sujeitos influencia, directa ou indirectamente, a acção dos outros;
O terceiro e último conceito diz respeito à forma como o significado das coisas deriva ou é retirado da interacção social com os outros que nos rodeiam. Estes significados são tratados e modificados, de acordo com o processo de interpretação de cada um, lidando com o que cada um encontra.
Por todas estas razões, o Interaccionismo Simbólico implica uma complexidade crescente, que pressupõe a rejeição a modelos prontos.
A Escola de Palo Alto
A corrente conhecida como a Escola de Palo Alto surgiu nos anos 50 através de estudos realizados por especialistas do Mental Research Institute. A inspiração para este movimento surgiu da teoria de classes lógicas, desenvolvida pelo filósofo inglês Bertrand Russel.
Este movimento pretendia dar respostas à forma como o processo mental se desenvolve. De acordo com as suas teorias, o processo mental desenvolve-se a dois níveis:
- A Lei da Comunicação, que defendia que é impossível não comunicar, pois mesmo quando não queremos falar e nos mantemos em silêncio, estamos a comunicar, uma vez que transmitimos essa mesma mensagem ao nosso interlocutor, e o conceito do duplo sentido, que consiste na dupla interpretação que cada situação pode despertar;
- A Lei da Mudança. De acordo com a escola de Palo Alto, existem dois tipos de mudança: a primeira, chamada de Tipo 1 (acontece ao nível micro), está relacionada com a realidade. Esta mudança é produzida dentro de um sistema que não se altera, apenas é alterado um componente desse sistema, mas no geral tudo se mantém na mesma. A segunda, chamada de Tipo 2 (acontece ao nível macro), é o tipo de mudança que irá surtir efeitos, sendo considerada a mais importante, pois trata-se de uma mudança na percepção da realidade. Para que esta mudança ocorra, é necessário que uma regra do sistema (hipótese, julgamento, estereótipo, …) seja quebrada, para que haja uma ruptura mental com o que existia anteriormente. De acordo com este movimento, para haver uma mudança verdadeira é necessário mudar-se duas vezes, ou seja temos de mudar a nossa realidade ao mesmo tempo que muda a nossa percepção. Só desta forma, é que nós, enquanto seres humanos, reconhecemos realmente a mudança, tornando-a irreversível.
Conclusão
Ambas as teorias estudadas têm um carácter holístico, uma vez que fazem uma abordagem ao todo, de modo a encontrar uma solução ou explicação para uma determinada situação.
Os princípios vinculados a estas correntes podem ser encontrados na nossa experiência quotidiana, pois remetem sempre para situações reais, vividas em sociedade. Na minha prática pessoal têm sido várias as situações vividas que se enquadram nos princípios defendidos por ambas as escolas. No dia-a-dia estamos constantemente a comunicar, daí que cada vez que comunicamos com os nossos familiares, colegas de trabalho, alunos, pais, etc. estamos a agir e a produzir resultados em função das situações e das pessoas com as quais nos deparamos. Estas atitudes são enquadradas com o contexto, adequando-se pessoal e socialmente às pessoas e situações vividas, por exemplo, a minha relação com os alunos com quem trabalho, a linguagem utilizada e as reacções que tenho perante as suas atitudes e respostas diferem daquelas que tenho perante a minha família, dado as situações sociais serem diferentes e exigirem comportamentos e símbolos distintos. Esta interacção vai, automaticamente, despoletar outro tipo de comportamentos e mudanças nos comportamentos e até mesmo na linguagem nos sujeitos com os quais me relaciono, implicando muitas vezes em mudanças de tipo 1 e 2, mediante os resultados obtidos, ainda que, por vezes, esses resultados não sejam visíveis de forma imediata. Os meus alunos são constantemente interpelados no sentido de corrigirem posturas, atitudes e até mesmo forma de falar. Dada a insistência na correcção dos erros, estes acabam por desaparecer, dando lugar aos comportamentos e uso da linguagem considerados adequados.
Bibliografia
- Costa, Mª Emília, Matos, Paula M., 2006, Abordagem Sistémica do Conflito, Lisboa, Universidade Aberta
- Blumer, Herbert, 1986, Symbolic Interaccionism: Perspective and Method, California, University of California Press
- Moreira, Daniel; 2002, O método fenomelológico na pesquisa, Thomson Pioneira
- Reynolds, L., Hermann-Kinney, Nancy, 2003, Handbook of symbolic interaccionismo, Rowan Altamira

sábado, 28 de março de 2009

Tema 1 - Abordagem dos conceitos de Afiliação, Aceitação, Reciprocidade, Interdependência e Rejeição



No âmbito da unidade curricular de Relações Interpessoais – AICE foi-nos pedido que elaborássemos uma reflexão à volta dos conceitos de Afiliação, Aceitação, Reciprocidade, Interdependência e Rejeição, que incluísse a nossa experiência enquanto professores, através de atitudes e comportamentos observados.
Assim, após a leitura dos textos propostos e reflexão acerca dos mesmos, considero relativamente simples encontrar exemplos de comportamentos de afiliação nas turmas com as quais trabalho. Logo à partida, recordo a situação da turma de Empregado de Bar (nível II), cujas características dos diferentes alunos levaram à “criação” deste mesmo comportamento, ou seja, os alunos desta turma são oriundos de contextos diferenciados, mas todos têm um denominador comum, o insucesso escolar e o total desinteresse pela escola e tudo o que lhe está associado. Os alunos desta turma criaram logo um ambiente de rejeição à escola e seus professores e agem em bloco, no sentido de serem convidados a sair da sala por mau comportamento. Basta um dos alunos começar um determinado comportamento (cantar ou fazer comentários depreciativos sobre um colega, por exemplo) que imediatamente os colegas o imitam, agravando a situação.
Estes alunos revelam, através dos seus comportamentos e atitude de rejeição à escola, um sentimento que abarca os diferentes conceitos de afiliação, aceitação, reciprocidade, interdependência e rejeição, pois visam constantemente atingir a escola e os professores através dos seus comportamentos disruptivos. Apesar de haver imensos conflitos entre si, os alunos associaram-se numa atitude de negação às normais actividades escolares, agindo em grupo, aceitando e respondendo sempre às atitudes dos restantes colegas de turma, demonstrando reciprocidade e interdependência enorme relativamente aos líderes da turma, que estão constantemente a mudar, uma vez que o conselho de turma vai aplicando estratégias, no sentido de anular os comportamentos disruptivos dos alunos em termos gerais, controlando os líderes do momento.
Porém, esta atitude de rejeição, que acaba por ser comum na turma, dada a necessidade de aceitação e afiliação destes jovens, tem vindo a quebrar, visto o Conselho de Turma ter delineado estratégias para conter os comportamentos dos alunos. No entanto, tem-se vindo a verificar que apesar de todos os esforços e das estratégias desenvolvidas, os alunos continuam a demonstrar um espírito de grupo muito coeso, sempre unido com o intuito de se protegerem mutuamente relativamente aos professores e escola.
Estes alunos têm-se revelado um desafio constante, quer para o conselho de turma, quer para a própria direcção pedagógica da escola, visto funcionarem sempre em bloco, apresentando todos os aspectos que se relacionam com afiliação (sentimento de pertença a um grupo), aceitação, reciprocidade, interdependência entre os vários membros da turma e rejeição face à escola.

sábado, 14 de março de 2009

Temas

Trabalhos realizados

Fontes

Reflexões

sexta-feira, 13 de março de 2009

Sejam benvindos ao meu bloguefólio de Relações Interpessoais!
Ana Paula